Estamos numa época em que as alterações climáticas é uma ameaça lenta e preocupante para o nosso planeta e para as pessoas que nela habitam.
O aproveitamento das energias renováveis é uma das soluções para que essa ameaça seja travada a tempo, mas é preciso dominar essa área, consciencializando e formando técnicos competentes e eficazes com oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Os entrevistados hoje são donos de uma empresa inicialmente encubada pelo CERMI e colaboram com o Centro Competências Cabo Verde, ministrando formações de níveis 3 e 4.
Micael Ribeiro, David Barbosa, Valdir Fortes e Davidson Candé, técnicos do Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI), falam-nos das suas trajetórias nessas áreas.
Em poucas palavras poderiam nos falar um pouco sobre vocês e das suas profissões?
Micael Ribeiro: Antes de trabalhar no CERMI, eu era ajudante na construção civil e também na área de jardinagem, depois inscrevi para fazer a formação profissional de sistemas de climatização e refrigeração, foi um incentivo muito bom que ajudou me a progredir e sair para o mercado de trabalho e hoje graças a Deus estou a atuar de uma forma positiva na minha área de trabalho, profissionalizando e o Centro de Energias Renováveis e Manutenção industrial (CERMI), deu me mais uma oportunidade em fazer uma equivalência no sistema solar térmico.
David Barbosa: Sempre gostava de estudar e explorar os meus conhecimentos, nasci num lar em que todos eramos responsáveis pelos nossos atos e nossas ações, não tínhamos uma condição financeira muito estável, por isso a cada oportunidade que aparecesse a nossa frente teríamos que agarrá-la bem e não deixá-la escapar, no meu caso foram os estudos e eu esforçava para que cada ano eu passasse de classe e assim evitava as despesas desnecessárias para a minha mãe, pois eu sabia das dificuldades que ela passava lá em casa, sendo uma mãe solteira e com filhos para sustentar.
Terminei o 12° ano, queria fazer engenharia informática, mas não consegui inscrever a tempo, fiquei um ano em casa, mas a minha mãe incentivou-me a ir a procura de algo para ocupar o meu tempo livre, fiz alguns trabalhos extra, mas depois consegui um trabalho na área de informática e comecei a adquirir alguns aprendizados.
Apareceu uma oportunidade para fazer uma formação em informática num período de um ano e dois meses de estágio no TACV, terminei a formação, mas com o início da pandemia as coisas complicaram-se e fiquei desempregado, passado alguns meses fui inscrever nas formações profissionais no CERMI e estou nessa área de trabalho até hoje.
Valdir Fortes: O meu percurso no início era como pintor nas construções civil aonde conheci os meus colegas do curso, ali fomos incentivados pelo nosso responsável da obra a nos inscrevermos nas formações profissionais que o CERMI disponibilizava, ele destacava as vantagens que isso poderia fazer nas nossas vidas e na nossa carreia profissional.
Davidson Candé: Também fazia trabalhos em construção civil, ali tinha um patrão que era como um pai para mim, o senhor Paulo Pina, ele encaminhou eu e os meus dois colegas para irmos fazer uma formação no CERMI, facultando a nossa formação, eu escolhi a área de sistemas fotovoltaicos, também fiz uma equivalência em solar térmico, o CERMI deu me uma oportunidade de estágio nas suas instalações e com isso veio a proposta de trabalho pela instituição, aonde estou até hoje e sinto me muito grato pela essa oportunidad
De onde surgiu o interesse pela área de energias renováveis e manutenção industrial ou foi uma mera aposta?
Micael Ribeiro: A ideia em fazer uma formação em energias renováveis não originou através da minha escolha, mas sim de um grupo de 5 amigos, aonde fomos incentivados pelo nosso chefe a deslocarmo-nos para o CERMI e fazer uma inscrição para uma formação profissional e através dessa ação quem sabe um dia criar a nossa própria empresa.
Davidson Candé: Energias renováveis para mim no início era algo desconhecido, eu fiz essa formação por ser me indicada e não por escolha própria, depois de explorar essa novidade eu pude constatar que era algo que eu gostava, mas não sabia, até hoje estou interessado em enriquecer os meus aprendizados e poder contribuir para que outros também possam ter acesso.
David Barbosa: Um dia deparei me com uma publicidade do CERMI nas feiras em que eles participavam, com diferentes leques de formação, procurei o técnico Ailton e perguntei como fazer para conseguir ingressar nessas formações, ele deu me todas as orientações e acompanhou me para fazer a inscrição, inscrevi na formação de sistema de climatização e refrigeração, e até hoje não me arrependo da minha escolha.
Valdir Fortes: O interesse para fazer a formação não foi da minha parte, mas sim do incentivo do senhor Paulo Pina, ele despertou-me a curiosidade de saber dominar e compreender o mundo das energias renováveis e manutenção industrial e de também saber conhecer as minhas capacidades na execução de um determinado obstáculo nessa área.
"... mas foi uma caminhada longa e com isso eu e os meus colegas fomos dominados “ Grupos de Maratona”, fazíamos muitas caminhada para o CERMI, mas para mim foi um sacrifício satisfatório porque ali fomos reconhecidos pelos formadores e nas salas de aulas relatavam para outros alunos o nosso empenho... "
Constataram algumas dificuldades no início?
Micael Ribeiro: Deparei-me com vários obstáculos no início, principalmente os custos para todas as formações, no começo achava que era caro mas depois analisando as formações e nível pude ver que o preço estava razoável, tive também dificuldades em termos de transporte, pois na minha época não tinha e por azar nenhum transporte público passava por aqui, mas foi uma caminhada longa e com isso eu e os meus colegas fomos dominados “ Grupos de Maratona”, fazíamos muitas caminhada para o CERMI, mas para mim foi um sacrifício satisfatório porque ali fomos reconhecidos pelos formadores e nas salas de aulas relatavam para outros alunos o nosso empenho, tomando o nosso exemplo e serem mais dedicados, que chegassem às horas nas aulas e melhorassem as suas notas.
David Barbosa: Muitas dificuldades, principalmente em termos de deslocamento para chegar ao CERMI, naquele tempo vivia em Achadinha, acordava as 05:00h de madrugada preparava o café e o almoço para levar e saía de casa às 08:00h da manhã, tínhamos de andar a pé até ao CERMI durante um ano e isso só foi possível com o incentivo e dedicação de nós todos, mas tem dias que não era possível levarmos algo para comer e passamos fome, eu e os meus colegas de caminhada.
Fazíamos testes com fome e via outros alunos a saírem para o intervalo para lanchar, isso abalava e muito a nossa motivação, as vezes ficamos apenas com a primeira refeição do dia e em casa íamos almoçar, o problema é que chegamos em casa as 15:30 ou 16:00, mas graças a nossa persistência conseguimos abater esse obstáculo.
Valdir Fortes: No início senti a diferença na forma de tratamento que os outros colegas nos dava pelo simples facto de virmos para o CERMI a pé, tentavam colocar a nossa autoestima e a força de vontade a baixo, mas não conseguiram pois tínhamos como objetivo concluir a nossa formação e posso dizer que foi um obstáculo que nos elevou para o sucesso até os dias de hoje.
Davidson Candé: Em relação as dificuldades, posso dizer que foram muitas, em termos de transporte foi a mais marcante porque não havia e coremos o risco de perseguição e até perigo, deslocávamos a pé durante todo o tempo da formação, passamos fome, mas como tínhamos incentivo as dificuldades não conseguiram travar a nossa trajetória.
Tiveram algum incentivo (bolsa) ou foi investimento próprio para fazerem essa formação?
Micael Ribeiro: No princípio eu o Valdir Fortes e o Davidson Candé tivemos incentivo do nosso patrão da época da construção civil, o senhor Paulo Pina facultou-nos o financiamento para podermos estudar, mas ao decorrer do percurso, nos quatro meses antes do término da formação o CERMI juntamente com o IEFP ofereceu bolsa de estudos para podermos concluir a nossa formação.
David Barbosa: Não tive nenhum incentivo, eu trabalhava part-time e financiei a minha inscrição, não era fácil naquela altura, mas eu queria fazer uma formação nessa área independentemente dos obstáculos que vinham aparecendo.
Quais foram os pontos positivos e negativos encontradas no decorrer da formação?
Micael Ribeiro: Os pontos positivos endereço para a dedicação dos formadores que pegavam muito no nosso pé, principalmente o formador Hipólito Gonçalves incentivando-me na área de termodinâmica aplicada e também dimensionamento, pois era uma área muito delicada no sistema de climatização e com isso consegui tirar um bom resultado principalmente na defesa do meu projeto final.
O ponto menos favorável na minha época foi o transporte que agora já não é um problema para com os atuais formandos.
Davidson Candé: As infraestruturas do CERMI sempre incentivou e despertou o interesse em saber lidar com os equipamentos de grandes portes, em excelente qualidade e que não encontrávamos muito no mercado, o ponto fraco era que alguns formadores faltavam lhes preparação e organização, mas isso veio se resolvendo no decorrer do tempo.
David Barbosa: No ponto positivo destaco alguns formadores capacitados principalmente na área de climatização e refrigeração, se não conseguirmos dominar o modulo de termodinâmica não era possível sobressair, mas também tinha muitos formadores que não tinham aquela pedagogia e não nos incentivava muito, mas eu com o meu foco e objetivo tirava o melhor de todas as situações para assim poder concluir a minha formação.
Valdir Fortes: Fui bem acolhido pelos funcionários da instituição, os espaços e laboratórios ajudou muito para desenvolver a minha capacidade, e os pontos negativos foram apenas a escassez do transporte no tempo em que fazia a formação.
Quais eram as vossas expetativas acerca do curso?
Micael Ribeiro: A princípio não tinha uma enorme expetativa, era apenas concluir a formação e sair para o mercado através de prestação de serviço ou reparação, mas hoje através de incentivo dos formadores, do CERMI e do 3C encontro-me como formador na área de climatização e refrigeração e as minhas expetativas em relação ao futuro é de ser um excelente técnico no mercado qualificado.
David Barbosa: A minha expetativa era entrar no mercado de trabalho e ter mais conhecimento e depois por fim criar o meu próprio negócio.
Valdir Fortes: Foi muito positivo para mim, abriu a minha visão em termos de como um jovem pode contribuir para a sociedade e de como podemos reutilizar sem causar danos ao que nos rodeia, pois, um bom técnico é aquele que identifica os problemas e os resolve de uma forma eficaz e ensina aos que tem interesse de aprender.
Davidson Candé: O que eu esperava da formação é sair como um técnico qualificado na área de energias renováveis e não fiquei desapontado porque consegui alcançar as minhas expetativas.
Com o término da formação conseguiram ingressar no mercado de trabalho? Como foi o ingresso?
Micael Ribeiro: Bom, a princípio iniciei a formação em outubro de 2017 e terminei em fevereiro de 2018, depois fui para o estágio na empresa CISIL e destaquei me por ser o melhor estagiário, fui designado responsável de técnicos, e com isso o meu ingresso no mercado de trabalho foi acessível derivados da minha determinação e garra e com apoio da empresa, hoje sou um técnico que gosta de desafios, porque com os conhecimento ganhos ao longo do percurso faz com que eu melhore o meu desempenho a cada dia.
David Barbosa: Consegui, mas o ingresso não foi de imediato, eu fui para uma empresa em que não tinha nada a ver com a formação que eu conclui, pois era mais a base de eletricidade, mas para mim era mais um acréscimo para o meu curriculum, pois no curso já tínhamos noção da eletricidade em geral e não específico.
Valdir Fortes: Eu consegui e foi bom graças a Deus pela oportunidade que me ofereceu e as instituições por onde passei, depois do estágio consegui um contrato de prestação de serviço, mas é como os meus colegas estavam a referir, é preciso muita força de vontade e fé.
Davidson Candé: Eu consegui ingressar, mas digo que não foi fácil por causa dessa área, mas o meu percurso foi com muito esforço, dedicação e desilusão porque nem sempre conseguimos ter tudo ao mesmo tempo, mas com o estágio no CERMI e a proposta de prestação de serviço feita pela mesma, foi um mecanismo para conhecer de melhor o mercado e chamar a atenção dos clientes.
A formação gerou também uma amizade entre vocês quatro e com isso criaram a “Sinergia Renováveis”, poderiam nos falar como foi essa criação?
Micael Ribeiro: Criamos Sinergia Renováveis através da proposta do senhor Paulo Pina, o nome da nossa empresa retrata o percurso e a nossa relação que tivemos durante a nossa formação no CERMI foi de irmandade, pois Sinergia significa cooperação, um por todos e todos por um, a nossa prestação de serviço vai de encontro com a área de renovação de energia.
David Barbosa: Era uma ideia desde o início, já nos conhecíamos antes de fazer a formação no CERMI e era nós quatro que fazíamos aquela caminhada todos os dias para podermos assistir as aulas, concordamos em criar uma empresa, depois de ter feito as formações e com equivalências tivemos uma visão mais ampla e vendo as oportunidades apostamos nessa criação.
Valdir Fortes: O nome foi escolhido pelo nosso antigo chefe, é visto como uma cooperação para poder ajudar uns aos outros e nós somos gratos pela sua ajuda e apoio.
Davidson Candé: Veio no âmbito da nossa convivência, mesmo antes da formação, mas através do CERMI é que tivemos a oportunidade de oficializar, saindo da ideia para a realidade, aprimorando ainda mais os nossos serviços.
Tiveram alguma ajuda extra na criação e divulgação da empresa?
Micael Ribeiro: A principal ajuda desde a raiz veio do senhor Paulo Pina, disponibiliza-nos transporte para prestação de serviços local e da nossa parte contribuímos como cooperação, irmandade de sinergias renováveis.
David Barbosa: Sim, mas também cada um dava o seu máximo e auxiliava a quem precisasse de ajuda, pois fomos nós que projetamos todos os conteúdos, ideias e formas de implementar a empresa no nosso círculo de trabalho.
Valdir Fortes: Criamos uma página no Facebook para a divulgação da nossa empresa, sobre o nosso trabalho e como podem entrar em contato.
Davidson Candé: Tivemos também ajudas extras, como familiares, vizinhos, colegas, formandos do incentivaram-nos a criar a nossa própria empresa, porque temos qualidades e somos unidos, sem esquecer do incentivo da parte do CERMI e isso foi uma ajuda e tanto para que a nossa empresa progrida.
Que mensagem deixam para os formandos e os que ainda não têm conhecimento dessa área do mundo renovável e manutenção industrial?
Micael Ribeiro: A minha mensagem é direcionada a todos os formandos e também aas pessoas que não se encontram bem informadas sobre as energias renováveis e manutenção industriais, é que os conteúdos são recentes no mercado, mas estão a progredir num bom ritmo, é bom estar informados e atualizados e aos formandos digo que dediquem muito na sua formação pois o mercado sempre vai precisar de técnicos, e é importante ser qualificado para podermos ter a capacidade de resolver todas as dificuldades.
David Barbosa: Agarrar nas oportunidades, principalmente nas áreas de energias renováveis que hoje em Cabo Verde é algo que temos carência, para alem de ver vários técnicos a se formarem, mais ainda existe essa carência, o mercado é reduzido porque muitas pessoas não estão bem informadas sobre energias renováveis e manutenção industrial, mas é preciso consciencializar todos os jovens que ao fazer uma formação em termos de energias renováveis é claro que vamos encontrar desafios e barreiras, mas não é motivo para desistir mas sim com objetivo de explorar essas áreas e saber qual o mercado que Cabo Verde nos oferece e como ajudar no seu desenvolvimento.
Valdir Fortes: Aos futuros formandos aconselho que deem o seu máximo no decorrer das formações, com a intenção de deixar o seu contributo para com a sociedade e que nunca deixam as dificuldades vencê-los pois temos que empenhar nas nossas ações para podermos alcançarmos os nossos objetivos, mesmo caindo e levantando.
Davidson Candé: Todos nos precisamos trabalhar para poder saciar as nossas necessidades, mas ao faze-lo e saber que não estamos a poluir o nosso meio ambiente e estamos a contribuir para um bem maior de todos, é a melhor satisfação que podemos ter, por isso aconselho a todos a irem informar de melhor sobre as energias renováveis e ver as oportunidades de trabalho que essa área nos oferece, através de formações profissionais.
Com o objetivo e determinação de se destacarem no mundo das energias renováveis e manutenção industrial, esses técnicos apostam fortemente em aprimorar se nas suas áreas especificas, dando o seu contributo mas também ensinar as gerações futuras a importância das energias renováveis e eficiência energética.